Míssil destrói prédio do complexo residencial de Kadafi
Edifício localizado a 50 m de tenda onde líder líbio recebe convidados foi
atingido por míssil; EUA rejeitam cessar-fogo líbio
No segundo dia da operação "Odisseia do Amanhecer", um prédio administrativo
do complexo residencial do líder líbio, Muamar Kadhafi, foi atingido por um
míssil e destruído neste domingo no bairro de Bab el Aziziya, em Trípoli,
constataram a AFP e a CNN no local. O prédio, situado a cerca de 50 metros da
tenda onde Kadafi recebe geralmente seus convidados importantes, foi totalmente
destruído. O incidente foi confirmado por um porta-voz do regime, Musa
Ibrahim.
Negando a intenção de atingir diretamente o líder do país, o secretário de
Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, disse à imprensa que matar Kadafi no
marco da operação seria "insensato".
Foto: Reuters
Veículos das forças leais ao líder Muamar Kadafi explodem depois de ataque
aéreo das forças de coalizão em uma estrada entre Benghazi e
Ajdabiyah
Previamente, havia testemunhos de baterias antiaéreas na zona da residência
de Kadafi. Apesar de afirmar que a coalizão não tem como alvo Kadafi ou sua
residência, um porta-voz dos EUA disse que sua segurança não pode ser
garantida.
A destruição do prédio aconteceu em meio a fortes
explosões na capital da Líbia, Trípoli, enquanto forças aliadas
intensificaram suas operações militares para estabelecer uma zona de exclusão
aérea prevista em resolução aprovada na quinta-feira pelo Conselho de Segurança
da ONU. A ofensiva, liderada por EUA, Reino Unido e França, conta também com a
participação de Canadá, Catar, Espanha e Itália.
Após a nova rodada de ataques, um porta-voz do Exército líbio informou que o
regime de Kadafi anunciou um novo cessar-fogo. Mas Tom Donilon, conselheiro para
Segurança Nacional do presidente dos EUA, Barack Obama, disse que o anúncio "era
uma mentira".
O cessar-fogo "era uma mentira e foi imediatamente violado" pelo regime
líbio, afirmou Donilon à imprensa no Rio de Janeiro, onde Obama encerrou neste
domingo sua viagem ao Brasil.
Em uma declaração no Pentágono neste domingo, o diretor do Estado-Maior
Conjunto dos EUA, William Gortney, disse que a ofensiva aliada "foi muito
efetiva", não tendo sido detectada nenhuma atividade aérea da Líbia. Segundo
ele, a capacidade de defesa antiaérea líbia foi "fortemente atingida" pelos
ataques de aviões e mísseis da coalizão, o que permite a instalação "efetiva" de
uma zona de exclusão aérea sobre o país, como determina a resolução da ONU.
"Benghazi (reduto da oposição e epicentro dos protestos no leste do país) não
está completamente protegida de ataques das forças de Kadafi, mas certamente
está sob menor ameaça do que ontem (sábado)", afirmou. "Acreditamos que as
forças de Kadafi estão sob estresse considerável e sofrendo com isolamento e
confusão", acrescentou.
Ataques pela manhã
Mais cedo, pelo menos 19 aviões americanos, entre eles três bombardeiros
furtivos B2 ("Stealth bomber"), atacaram alvos na Líbia durante o amanhecer. De
acordo com a rede de televisão CBS, os bombardeiros lançaram 40 bombas contra
uma grande base aérea líbia .
Um dia depois de forças europeias e americanos terem começado a operação, o
líder líbio fez um novo discurso desafiador, prometendo retaliação e dizendo
que a Líbia está preparada para manter uma "longa guerra". "Prometemos uma
guerra longa e extensa sem limites", disse. "Vamos lutar palmo a palmo."
De acordo com correspondentes da AFP e rebeldes, dezenas de veículos
militares de Kadafi, entre eles tanques, foram destruídos por bombardeios aéreos
no oeste de Benghazi. Tanques destruídos, canhões de artilharia queimados e
corpos de membros das forças pró-Kadafi eram visíveis no local bombardeado,
situado a cerca de 35 a oeste de Benghazi.
O governo líbio diz que os bombardeios deixaram 64 mortos e mais de 150
feridos, mas a informação não foi verificada de forma independente. Os EUA
disseram que não têm registro de mortos. "Não há indícios de vítimas civis",
disse neste domingo o almirante americano Gortney.
Em um discurso transmitido pela televisão estatal líbia, Kadafi prometeu uma
vitória contra o que chamou de "novo nazismo" e disse que está "armando todos os
líbios". "Estamos em nossa terra. Os líbios estão unidos atrás de um comando
unificado. Lutaremos em uma frente ampla", disse Kadafi, que qualificou os
líderes aliados de "selvagens e criminosos".
No sábado à noite, ele acusou as potências ocidentais de "colonialismo" e
pediu ao povo que empunhe armas para defender a revolução que ele lidera. "Essa
agressão só torna o povo líbio mais forte e consolida sua vontade", disse.
Contra os inimigos, disse, o regime abrirá "os depósitos de armas para defender
a unidade, soberania e poder da Líbia".
Sucesso inicial
Segundo o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, o almirante Michael Mullen,
o início da operação internacional destinada a destruir as defesas aéreas do
regime líbio e estabelecer uma zona de exclusão aérea no país "teve êxito" e
interrompeu a ofensiva do governo sobre Benghazi.
Ao programa "The Week", Mullen disse as tropas leais a Kadafi "já não estão
marchando sobre Benghazi". Os comentários foram feitos depois de barcos de
guerra americanos e um submarino britânico dispararem no sábado ao menos 110
mísseis de cruzeiro Tomahawk contra locais de defesa antiaérea do regime
líbio.
Foto: Reuters
Rebelde observa carro das forças de Kadafi destruído por ataque da coalizão
em estrada entre Benghazi e Ajdabiyah
O Conselho de Segurança da ONU autorizou na quinta-feira o uso da força e a
imposição de uma zona de exclusão aérea para proteger a população líbia da
contraofensiva lançada por Kadafi contra a rebelião que, desde meados de
fevereiro, tomou o controle de várias cidades.
Plano de ação da Otan
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pode aprovar neste domingo
os planos de operação na Líbia para respeitar o embargo internacional de armas,
garantir a zona de exclusão aérea e realizar trabalhos humanitários, disseram
fontes da Aliança.
Os detalhes operacionais, que neste domingo serão discutidos pelas
autoridades militares e, em seguida, analisados pelo Conselho Atlântico, são
"praticamente a última fase antes de aplicar um plano militar", afirmaram as
fontes.
Uma vez aprovados tais detalhes, só ficará pendente a decisão sobre uma
intervenção militar da Otan, que, a princípio, deve ser discutida na
segunda-feira. Os militares e embaixadores dos 28 países aliados estão reunidos
durante todo o fim de semana, completando o planejamento de uma eventual
intervenção militar na Líbia.
A Otan considera que a aprovação na última quinta-feira da resolução 1973 do
Conselho de Segurança deixa aberta qualquer opção para a aplicação do bloqueio
aéreo por organizações e pela própria Aliança Atlântica ou ainda pelos Estados,
individualmente.